sábado, 9 de junho de 2012




 De 1900 em diante — saias salpicadas de sangue

“Não há sólida fundação assentada em sangue.” — Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês (1564-1616).

LEMBRA-SE da tragédia de Jonestown, na Guiana, que este mês completará 11 anos? Mais de 900 membros do grupo religioso conhecido como Templo do Povo cometeram suicídio em massa por beberem suco de fruta com cianureto, a maioria deles voluntariamente.

Chocadas, as pessoas perguntavam: ‘Que tipo de religião é esta que sacrifica a vida de seus próprios membros?’ Todavia, muito sangue inocente tem sido derramado em nome da religião, por quase 6.000 anos. No século 20, contudo, tem-se derramado sangue com mais freqüência, e de mais maneiras do que em qualquer outra época da História. Considere apenas um mínimo da evidência disponível.

Sacrifícios Humanos a um Deus Falso

Desde 1914, duas guerras mundiais e mais de cem conflitos menores têm derramado um oceano de sangue. Um século atrás, o escritor francês Guy de Maupassant disse que “o ovo do qual eclode as guerras” é o patriotismo, que ele chamou de “uma espécie de religião”. Com efeito, The Encyclopedia of Religion (Enciclopédia de Religião) afirma que o primo do patriotismo, o nacionalismo, “tem-se tornado uma forma dominante de religião no mundo moderno, preenchendo um vazio deixado pela deterioração dos valores religiosos tradicionais”. Por deixar de promover a adoração verdadeira, a religião falsa criou o vácuo espiritual que o nacionalismo conseguiu preencher.

Em parte alguma isto foi mais bem ilustrado do que na Alemanha nazista, cujos cidadãos, no início da II Guerra Mundial, afirmavam ser 94,4 por cento cristãos. Dentre todos os lugares, a Alemanha — berço do protestantismo e elogiada, em 1914, pelo Papa Pio X como o lar dos “melhores católicos do mundo” — deveria representar o melhor que a cristandade tinha a oferecer.

Significativamente, o católico Adolf Hitler encontrou apoio mais imediato entre os protestantes do que entre os católicos. Distritos predominantemente protestantes lhe deram 20 por cento de seus votos nas eleições de 1930, e os distritos católicos apenas 14 por cento. E a primeira maioria absoluta conseguida pelo Partido Nazista nas eleições estaduais aconteceu em 1932, em Oldemburgo, um distrito em que 75 por cento eram protestantes.

Pelo visto, o “vazio deixado pela deterioração dos valores religiosos tradicionais” era maior no protestantismo do que no catolicismo. E isso é compreensível. A teologia liberalizante e a alta crítica da Bíblia eram notadamente um produto dos teólogos protestantes de língua alemã.

Igualmente significativo é o que, por fim, consolidou o apoio católico a Hitler. Klaus Scholder, historiador alemão, explica que “por tradição, o Catolicismo alemão dispunha de vínculos especialmente íntimos com Roma”. Vendo no nazismo um baluarte contra o comunismo, o Vaticano não se mostrava avesso a utilizar sua influência para fortalecer a mão de Hitler. “As decisões fundamentais passaram cada vez mais para a Cúria”, afirma Scholder, “e, com efeito, o status e o futuro do catolicismo no Terceiro Reich foram finalmente decididos quase que inteiramente em Roma”.

A parte que a cristandade desempenhou em ambas as guerras mundiais levou a uma grave perda de prestígio. Como explica o Concise Dictionary of the Christian World Mission (Dicionário Conciso da Missão Cristã Mundial): “Os não-cristãos tinham diante dos olhos. . . o fato evidente de que nações com a bagagem de mil anos de ensino cristão haviam fracassado em controlar suas paixões e tinham incendiado o mundo todo, para a satisfação de ambições nada admiráveis.”

Por certo, as guerras motivadas pela religião não são nada novo. Mas, em contraste com o passado, quando nações de diferentes religiões guerreavam umas contra as outras, o século 20 presenciou cada vez mais nações da mesma religião envolvidas em amargo conflito. É evidente que o deus do nacionalismo tem conseguido manipular os deuses da religião. Assim, durante a II Guerra Mundial, ao passo que os católicos e os protestantes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos matavam católicos e protestantes na Itália e na Alemanha, os budistas no Japão faziam a mesma coisa com seus irmãos budistas no sudeste da Ásia.
Todavia, em vista de sua própria roupa manchada de sangue, a cristandade não pode, em autojustiça, apontar o dedo para os outros. Ao advogar, apoiar e, por vezes, eleger governos humanos imperfeitos, tanto os professos cristãos como os não-cristãos precisam igualmente partilhar a responsabilidade pelo sangue que tais governos têm derramado.

Mas que tipo de religião colocaria o governo acima de Deus e ofereceria seus próprios membros como sacrifícios políticos no altar do deus da guerra?

“Derramavam Sangue Inocente”

Tais palavras, proferidas séculos atrás a respeito do Israel apóstata, aplicam-se a todas as religiões falsas, e às da cristandade em especial. (Salmo 106:38) Não se esqueça dos milhões de vidas sufocadas no Holocausto, tragédia em que as igrejas da cristandade não eram inculpes. — Veja Despertai! de 8 de abril de 1989.

Os clérigos alemães também permaneceram calados quanto a outra questão, menos conhecida, porém igualmente trágica. Em 1927, dois anos depois de Hitler ter esboçado suas idéias sobre raça em Mein Kampf (Minha Luta), o editor e teólogo católico Joseph Mayer publicou um livro que trazia o imprimátur episcopal, dizendo: “Os doentes mentais, os lunáticos morais, e outras pessoas inferiores não têm direito algum de procriar, assim como não têm de atear incêndios.” O pastor luterano Friedrich von Bodelschwingh achava que a esterilização dos deficientes físicos era compatível com a vontade de Jesus.

Esta atitude, que contava com o apoio da religião, ajudou a pavimentar o caminho para o “decreto de eutanásia” de 1939, de Hitler, que levou à morte de mais de 100.000 cidadãos mentalmente perturbados, e à esterilização forçada de calculadamente 400.000 pessoas.

Não foi senão em 1985, 40 anos após o fim da guerra, que autoridades da Igreja Luterana na Renânia admitiram publicamente: “Nossa igreja não se opôs com suficiente vigor à esterilização forçada, ao assassínio dos doentes e dos deficientes, e à realização de experiências médicas cruéis em humanos. Suplicamos o perdão das vítimas ainda vivas e de seus parentes sobreviventes.”

É verdade que a campanha de eutanásia do Governo diminuiu consideravelmente de ritmo depois que o bispo católico de Münster lançou um ataque de fraseado bem aguçado em 3 de agosto de 1941, chamando tal política de assassínio. Mas por que demorou 19 meses e 60.000 mortos antes de se ouvir uma condenação?

Culpa de Sangue da Religião

A maioria das religiões afirma respeitar a vida e interessar-se na proteção das pessoas. Mas, será que os clérigos mostram coerência em avisar seus rebanhos contra os perigos físicos do fumo; do consumo de tóxicos, inclusive do álcool; da ingestão de sangue no corpo, e da promiscuidade sexual? Mais importante ainda, será que condenam tais obras da carne como as condena a Bíblia, explicando que elas podem privar-nos de ter a aprovação de Deus? — Atos 15:28, 29; Gálatas 5:19-21.

Naturalmente, alguns avisam. E a Igreja Católica, bem como muitas igrejas fundamentalistas, demonstram respeito pela vida a ponto de denunciarem o aborto como derramamento de sangue inocente. Todavia, a lei do aborto da Itália católica é uma das mais liberais da Europa.

O budismo também condena os abortos. Mas, no Japão, num único ano, relatou-se que foram feitos 618.000, embora 70 por cento da população adira ao budismo. Isto suscita a pergunta: Em que base deveríamos julgar uma religião, pelo que seus órgãos oficiais e alguns de seus clérigos dizem, ou pelo que faz um grande número de seus membros que gozam de boa posição?

Outro exemplo de deixar de avisar o iníquo tem que ver com a cronologia bíblica e o cumprimento das profecias da Bíblia. Ambos indicam que, em 1914, o Reino celeste de Deus foi estabelecido às mãos de Jesus Cristo. Embora a cristandade celebre o suposto nascimento de Cristo todo dezembro, os clérigos não o proclamam como Rei reinante, assim como os líderes do judaísmo não o aceitaram como Rei-Designado dezenove séculos atrás.

Os clérigos, de qualquer denominação, que deixam de avisar sobre as conseqüências de se desobedecer às leis de Deus quanto à moral, e de se recusar a submeter-se ao Reino de Deus, que já domina, estão, de acordo com Ezequiel 33:8, acumulando a culpa de sangue sobre eles mesmos. Seu silêncio equivale a nada menos do que a cruzar os braços, enquanto milhões de seus rebanhos se tornam culpados de sangue.
Assim, por borrifar as saias com sangue inocente, a religião falsa tem negado o vitalizador sangue derramado de Cristo Jesus. (Veja Mateus 20:28 e Efésios 1:7.) Por esse motivo, o sangue salpicado nas saias da religião falsa dentro em breve — muito em breve — será o dela mesma! — Revelação 18:8.
“A Religião Falsa — Apanhada Pelo Seu Passado!”, não encontrará via de escape. Permita que nossa próxima edição lhe explique isso.


Isto nos faz lembrar um tanto as calculadamente 300.000 a 3.000.000 de “feiticeiras” que, a partir do século 15, foram assassinadas com a bênção papal.

Veja Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, capítulos 16-18, editado em 1982 pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.

A culpa de sangue da religião falsa no passado, conforme representada nesta xilogravura do século 15, que retrata a queima em massa de hereges na fogueira, é mais do que sobrepujada por seu histórico do século 20.


Sinos de igrejas alemãs foram fundidos para fins bélicos na I Guerra Mundial.


“A religião se tornou, em muitas partes do mundo atual, a serva da revolução. . . Ela continua a inspirar a matança na Irlanda do Norte, tanto quanto no subcontinente da Índia e nas Filipinas.” — The Encyclopedia of Religion.

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