sábado, 9 de junho de 2012




 Do século 17 ao 19 — a cristandade tenta sobrepor-se às mudanças mundiais

“A Filosofia e a religião são irreconciliáveis.” — Georg Herwegh, poeta alemão do século 19.

“FILOSOFIA”, palavra derivada de radicais gregos que significam “amor da sabedoria”, é difícil de definir. Ao passo que duvida que se possa dar “uma definição universal e totalmente abrangente”, The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) propõe que “uma primeira tentativa nesta direção poderia ser definir filosofia, quer como ‘uma reflexão sobre as variedades da experiência humana’, quer como ‘a consideração racional, metódica e sistemática daqueles tópicos que são de máximo interesse para o homem’”.

Tais definições mostram claramente por que a religião verdadeira e a filosofia são irreconciliáveis. A religião verdadeira baseia-se na revelação divina, e não nas “variedades da experiência humana”. Em primeiro lugar e antes de mais nada, gira em torno dos interesses do Criador, e não em torno dos “tópicos que são de máximo interesse para o homem”. A religião falsa, por outro lado, como a filosofia, baseia-se na experiência humana, e coloca os interesses humanos acima de tudo. Este fato tornou-se especialmente evidente do século 17 em diante, à medida que a cristandade tentava sobrepor-se às mudanças mundiais.

Uma Ameaça Tripla

Logo que a ciência moderna nasceu, no século 17, parecia inevitável um choque entre ela e a religião. Espetaculares avanços científicos envolveram a ciência numa auréola de infalibilidade e de autoritarismo, produzindo o cientismo, uma religião em si, uma vaca sagrada. A luz dos “fatos” científicos, as afirmações religiosas pareciam precariamente destituídas de provas. A ciência era algo novo e excitante; a religião parecia antiquada e insípida.

Esta atitude para com a religião foi intensificada pelo Iluminismo, um movimento intelectual que varreu a Europa nos séculos 17 e 18. Destacando o progresso intelectual e material, rejeitava tanto a autoridade como a tradição política e religiosa em favor do raciocínio crítico. Este, supostamente, era a fonte do conhecimento e da felicidade. “Suas raízes ancestrais”, afirma The New Encyclopædia Britannica, encontravam-se “na filosofia grega”.

O Iluminismo era mormente um fenômeno francês. Líderes destacados da França incluíam Voltaire e Denis Diderot. Na Grã-Bretanha, encontrou porta-vozes em John Locke e em David Hume. Seus defensores também podiam ser encontrados entre os pais da pátria dos EUA, inclusive Thomas Paine, Benjamim Franklin e Thomas Jefferson. Com efeito, a separação de Igreja e Estado, exigida pela Constituição dos EUA, é um reflexo das idéias do Iluminismo. Membros notáveis na Alemanha eram Christian Wolff, Emanuel Kant e Moisés Mendelssohn, avô do compositor Félix Mendelssohn.

Diz-se que Kant, suspeitoso da religião, definiu “Iluminismo” como “a liberação, do ser humano, da tutela auto-imposta”. Com isto, explica Allen W. Wood, da Universidade de Cornell, Kant queria dizer “o processo pelo qual os indivíduos humanos ganham a coragem de pensar por si mesmos sobre a moral, a religião, e a política, em vez de suas opiniões lhes serem ditadas pelas autoridades políticas, eclesiásticas ou bíblicas”.

Na segunda metade do século 18, iniciou-se a Revolução Industrial, primeiro na Grã-Bretanha. A ênfase passou da agricultura para a produção e fabricação de bens, com o auxílio de máquinas e de processos químicos. Isto transtornou uma sociedade principalmente agrícola e rural, fazendo com que milhares de pessoas se apinhassem nas cidades, em busca de trabalho. O resultado foram os bolsões de desemprego, escassez de moradias, pobreza e vários males relacionados com o trabalho.

Conseguiria a cristandade enfrentar esta ameaça tripla da ciência, do Iluminismo e da indústria?

Removendo Deus, Ainda que Bem Brandamente

As pessoas persuadidas pelo modo de pensar do Iluminismo culpavam a religião por muitos dos males da sociedade. A idéia de que “a sociedade deveria ser construída de acordo com modelos pré-fabricados da lei divina e natural”, afirma The Encyclopedia of Religion (Enciclopédia de Religião), “foi substituída pela noção de que a sociedade era, ou poderia ser, construída pelo próprio ‘engenho’ ou ‘imaginação’ do homem. Um humanismo secular e social veio assim a existir, o qual, por sua vez, geraria a maioria das teorias filosóficas e sociológicas do mundo moderno”.

Estas teorias incluíam a “religião civil” advogada pelo influente filósofo francês do Iluminismo, Jean-Jacques Rousseau. Centrava-se na sociedade e no envolvimento humano nos interesses dela, em vez de num Ser divino e na sua adoração. O memorialista francês Claude-Henri de Rouvroy advogava um “Novo Cristianismo”, ao passo que seu protegido Augusto Comte falava de uma “religião da humanidade”.

Em fins do século 19, desenvolveu-se entre os protestantes o movimento americano conhecido como evangelho social; estava intimamente relacionado com as teorias européias. Essa idéia, com embasamento teológico, asseverava que o principal dever dum cristão é o envolvimento social. Encontra grande apoio entre os protestantes, até os dias de hoje. As versões católicas podem ser encontradas nos padres-operários, da França, e entre os clérigos da América Latina que ensinam a teologia da libertação.

Os missionários da cristandade também refletem tal tendência, como uma notícia publicada na revista Time, de 1982, indica: “Entre os protestantes, houve uma mudança no sentido de maior envolvimento nos problemas básicos, sociais e econômicos, do povo. . . Para um crescente número de missionários católicos, a identificação com a causa dos pobres significa advogar mudanças radicais nos sistemas políticos e econômicos mesmo que tais mudanças estejam sendo promovidas por movimentos revolucionários marxistas. . . . Deveras, há missionários que crêem que a conversão é fundamentalmente irrelevante à sua verdadeira tarefa.” Tais missionários evidentemente concordam com o sociólogo francês Émile Durkheim, que certa vez sugeriu: ‘O real objeto da adoração religiosa é a sociedade, e não Deus.’

Obviamente, a cristandade estava removendo Deus da religião, ainda que brandamente. No ínterim, outras forças também operavam.

Substituir Deus por Pseudo-religiões

As igrejas não tinham soluções para os problemas criados pela Revolução Industrial. Mas as pseudo-religiões, produtos de filosofias humanas, afirmavam que tinham, e rapidamente passaram a preencher o vácuo existente.

À guisa de exemplo, algumas pessoas acharam que seu objetivo na vida era a busca de riquezas e de bens, uma tendência egotista promovida pela Revolução Industrial. O materialismo tornou-se uma religião. O Deus Todo-poderoso foi substituído pelo ‘Todo-poderoso Dólar’. Numa peça de George Bernard Shaw, um personagem faz alusão a isso, exclamando: “Sou milionário. É a minha religião.”

Outras pessoas se voltaram para os movimentos políticos. O filósofo socialista Friedrich Engels, colaborador de Karl Marx, profetizou que o socialismo substituiria com o tempo a religião, assumindo ele próprio atributos religiosos. Assim, à medida que o socialismo ganhava terreno por toda a Europa, afirma o aposentado Professor Robert Nisbet, “um elemento destacado era a apostasia dos socialistas, quer do judaísmo quer do cristianismo, e recorrem a um substituto”.

O fracasso da cristandade em enfrentar as mudanças mundiais permitiu o desenvolvimento de forças às quais a World Christian Encyclopedia (Enciclopédia Mundial Cristã) refere-se como “secularismo, materialismo científico, comunismo ateu, nacionalismo, nazismo, fascismo, maoísmo, humanismo liberal e inúmeras pseudo-religiões construídas ou fabricadas”.

Em vista dos frutos produzidos por tais pseudo-religiões filosóficas, pareceriam muitíssimo apropriadas as palavras do poeta britânico John Milton: “Tudo isso é sabedoria vã, e falsa filosofia.”

Procurando Uma Solução Conciliatória

Colhidas entre ineficazes sistemas eclesiásticos, de um lado, e enganosas pseudo-religiões do outro, milhões de pessoas procuravam algo melhor. Alguns acharam que o tinham encontrado numa forma de deísmo, também conhecida como “religião natural”. Granjeando destaque especialmente na Inglaterra, no século 17, o deísmo tem sido descrito como solução conciliatória que abraçava a ciência sem abandonar a Deus. Os deístas eram, por conseguinte, livres-pensadores que seguiam um proceder intermediário.

O autor Wood esclarece: “Em seu significado principal, o deísmo significa a crença num único Deus e numa prática religiosa fundada unicamente na razão natural, em vez de na revelação sobrenatural.” Mas, por descartar a “revelação sobrenatural”, alguns deístas foram ao ponto de rejeitar quase que totalmente a Bíblia. Nos dias atuais, o termo raramente é usado, embora cristãos professos que rejeitam a autoridade eclesiástica ou bíblica em favor da opinião pessoal, ou de filosofias alternativas de vida, estejam, em realidade, aderindo a seus princípios.

Teorias Paralelas da Evolução

O confronto mais dramático entre a religião e a ciência ocorreu depois da publicação, em 1859, de A Origem das Espécies, de Darwin, em que ele propôs sua teoria da evolução. Os líderes religiosos, especialmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, de início condenaram tal teoria em termos fortes. Mas a oposição logo se desvaneceu. Já na época da morte de Darwin, afirma The Encyclopedia of Religion, “a maioria dos clérigos refletivos e expressivos tinham chegado à conclusão de que a evolução era inteiramente compatível com o entendimento esclarecido da escritura”.

Isto talvez explique por que o Vaticano jamais colocou os livros de Darwin em seu Índice Expurgatório [de Livros Proibidos]. Talvez também explique a reação da assistência na conferência de Chicago, EUA, de 1893, do Parlamento das Religiões do Mundo. Enquanto os budistas e os hinduístas ouviam, um orador “cristão” disse: “A teoria da evolução preenche uma lacuna do próprio início de nossa religião, e, se a ciência está satisfeita de modo geral com sua teoria da evolução como o método de criação, concordância é uma palavra fria com a qual aqueles, cujo negócio é conhecer e amar os caminhos de Deus, devem acolhê-la.” Tal declaração foi, alegadamente, muito aplaudida.

Não é surpreendente tal atitude, em vista da popularidade gozada em fins do século 19, daquilo que se tornou conhecido como religião comparativa. Tratava-se dum estudo científico das religiões do mundo, visando determinar como diferentes religiões se inter-relacionam e como elas vieram a existir. O antropólogo inglês John Lubbock, por exemplo, expressou a teoria de que os humanos começaram como ateus e então, progressivamente, evoluíram através do fetichismo, a adoração da natureza, e o xamanismo, antes de chegarem ao monoteísmo.

No entanto, como explica The Encyclopedia of Religion: “A religião, em tal conceito, não era uma verdade absoluta, revelada pela deidade, mas o registro de concepções humanas em desenvolvimento a respeito de Deus e da moral.” Assim, aqueles que aceitavam tal teoria não tinham dificuldade alguma de aceitar o deísmo, uma “religião civil” ou uma “religião de humanismo” como degraus que conduziam ao alto, na escada da evolução religiosa.

Em última análise, ao que tal conceito os leva? Já no século 19, o filósofo inglês Herbert Spencer disse que a sociedade entrava num arcabouço de progresso não mais compatível com a religião. E, a respeito do século 20, o Professor Nisbet comentou que os sociólogos em geral crêem que a religião “satisfaz certas necessidades psicossociais dos seres humanos, e até, ou a menos que, tais necessidades sejam eliminadas pela evolução biológica da espécie humana, a religião, de uma forma ou de outra, continuará sendo uma realidade persistente da cultura humana”.  Assim sendo, os sociólogos não estão descartando a possibilidade de que o “progresso evolucionário” passa, algum dia, resultar em nenhuma religião!

Intensificada a Busca da Religião Verdadeira

Já em meados do século 19, tornou-se óbvio que, por cerca de 200 anos, a cristandade estivera travando uma batalha perdida contra as mudanças mundiais. A sua religião tinha-se degenerado em pouco mais do que uma filosofia mundanal. Milhões de pessoas honestas estavam preocupadas. A busca da religião verdadeira se intensificou. Poder-se-ia dizer, verdadeiramente, que era impossível reformar a cristandade. O que se precisava era da restauração da adoração verdadeira. Informe-se mais sobre isso em nossa edição de 22 de outubro.


As especulações jamais provadas de Darwin, em A Origem da Espécies, tornaram-se o pretexto para que muitos abandonassem a crença no Deus da revelação.

Pressionada Pelas Mudanças Mundiais, a Cristandade Transige

  O APARECIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA enfraqueceu a fé no invisível e gerou dúvidas sobre as coisas que a ciência não conseguia “provar”. A cristandade transigiu quanto à verdade bíblica por adotar teorias supostamente científicas, não comprovadas, como a evolução, e por encarar o conhecimento científico, em vez de o Reino de Deus, como a panacéia para os problemas mundiais.

  O DESPONTAR DE IDEOLOGIAS POLÍTICAS (capitalismo, democracia, socialismo, Comunismo, e assim por diante) gerou conflitos nacionalistas e embates ideológicos, obscurecendo assim a verdade bíblica de que Deus, e não o homem, é o legítimo Governante da Terra. A cristandade transigia quanto aos princípios bíblicos, por violar a neutralidade cristã e ficar envolvida em guerras que lançaram os membros da mesma religião uns contra os outros. A cristandade, de modo ativo ou passivo, apoiou as pseudo-religiões políticas.

  O PADRÃO MAIS ALTO DE VIDA, tornado possível mediante as Revoluções Industrial e Científica, promoveu o egotista interesse próprio e trouxe a lume a injustiça e a desigualdade sociais. A cristandade transigiu nisto, por negligenciar os interesses divinos em favor de envolver-se nos interesses humanos de natureza social, econômica, ecológica ou política.


Progride ou Regride?

  A Bíblia diz: Os humanos foram criados perfeitos e lhes foi ensinado como adorar o Criador de forma aceitável; mas eles se rebelaram contra Deus, e, por cerca de 6.000 anos, têm degenerado, tanto física como moralmente, afastando-a cada vez mais da religião verdadeira que originalmente praticaram.

  A evolução biológica e religiosa diz: Os humanos evoluíram a partir de um começo primitivo e eram ateus, sem ter qualquer religião; por indizíveis milhões de anos, eles melhoraram tanto física como moralmente, chegando cada vez mais perto dum estado utópico desenvolvimento religioso, social e moral.

  Com base no que o leitor sabe sobre o comportamento humano, sobre a condição da humanidade, e sobre a condição da religião no mundo atual, qual destes conceitos lhe parece mais coerente com os fatos?

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